terça-feira, 12 de junho de 2012

Entrevista de Lucho ao OJOGO

Vale a pena ler a entrevista atentamente.

“"SENTI-ME IMPORTANTE PARA DAR A MINHA OPINIÃO"

Frederico del Rio

Não contava voltar tão cedo ao Dragão e faz um balanço quase perfeito deste meio ano. A "espinha encravada" foi a eliminação na Liga Europa. Por isso, aposta forte na Champions na próxima época

"É mesmo assim, desde há alguns anos que o verão me passa ao lado. Porque quando ele chega à Europa, venho para a argentina e apanho com o frio todo. Mas isso é compensado com a oportunidade de estar perto da família e dos meus amigos. Isso não tem preço". O frio é intenso em Buenos Aires, onde o sol se escondeu por estes dias de outono, mas sem rodeios Lucho encontra o melhor remédio, o calor do afeto, o amor pela sua gente e pela sua terra. Cada minuto em sua casa é energia que carrega para quando regressar a Portugal, em julho. Por enquanto, aproveita em casa os momentos que pode desfrutar junto dos seus três filhos, Tomás, Románemateo, ajudando-os nas tarefas da escola, ou simplesmente a brincar e a passear ao lado de Andrea, a mais nova. Também encontra tempo para uma corrida diária, para treinar nas máquinas que comprou para casa e que o ajudam a manter a forma. "Já não tenho 20 anos – diz com um sorriso –. Tenho de me cuidar e quero chegar bem preparado para o início da pré-temporada", comentou Lucho, feliz por ter voltado a vestir a camisola do FC Porto e por ter somado mais uma estrela de campeão no seu palmarés e no do clube. Quase não encontra pontos negativos no que viveu desde o final de janeiro, quando se concretizou

o seu regresso. E enquanto toma mate que cristian Rodríguez lhe ofereceu (com o escudo do Peñarol), o argentino passa em revista A O JOGO o reencontro que sempre sonhou com o clube, com os companheiros e com os adeptos. "sabia que colocava em causa tudo o que consegui antes. Cheguei com esse desafio e o resultado final foi muito positivo. A equipa estava a cinco pontos, o que na liga portuguesa é uma grande diferença e, por sorte, tivemos a possibilidade de aproximarmo-nos porque o Benfica perdeu pontos e, uma vez que passámos a depender apenas de nós, surgiu a mística que o clube tem, sabendo que não podíamos deixar fugir o título."

O clássico com o Benfica foi o jogo -chave da época?

Sim, esse jogo foi fundamental. Até porque chegámos lá empatados na classificação e ao vencer conseguimos uma vantagem na tabela e também na cabeça: foi um golpe anímico a nosso favor e contra o Benfica que soubemos aproveitar.

A Liga Europa foi o único "assunto por resolver"?

Sim porque o FC Porto tinha ganho a edição anterior e ser eliminado nos oitavos de final foi um golpe duro. Mas sabíamos que defrontávamos um dos favoritos. Mais tarde teve ainda mais impacto a nossa eliminação porque o Sporting lhes ganhou. Mas os jogos não são todos iguais, nem que o adversário seja o mesmo. No Dragão podíamos ter ganho, mas perdemos por distrações e uma equipa como Manchester City não perdoa.

Essa eliminação fez a equipa unir-se ainda mais para ganhar o campeonato?

Ficar de fora dessa prova permitiu-nos focar em exclusivo no campeonato, que era o objetivo principal do clube, depois de também ter ficado de fora da Taça de Portugal. E nós, os dirigentes e os adeptos estamos muito contentes com o título.

Sentiu que foi importante no balneário?

Se bem que já conhecia muitos companheiros, fui muito bem recebido. E ao conhecer o clube, senti-me importante para dar a minha opinião. Cheguei ao clube com o objetivo de ser campeão e fomos todos fundamentais para o conseguir. Não fui com a intenção de pedir a braçadeira de capitão nem nada disso, simplesmente queria acrescentar o que podia em campo e no balneário para conseguir esse título.

E na próxima época qual é o objetivo?

Como todos os anos, o campeonato, e também melhorar a imagem que deixámos na Liga dos Campeões, na qual não conseguimos passar a fase de grupos. Quando foi o sorteio parecia um grupo acessível, mas na Champions defronta-se as melhores equipas e não podemos confiar seja contra que rival for. Basta ver que o APOEL eliminou o Lyon. Isso era impensável há uns anos. Mesmo que seja a estreia de uma equipa na competição, pode acontecer qualquer resultado.

Mantém o sonho de tatuar a "orelhuda"

Lucho já perdeu a conta às tatuagens que tem por todo o corpo, mas ainda não parou de as fazer. O título nacional conquistado pelo FC Porto não motivou um novo desenho, mas há um em particular que gostava de acrescentar a curto prazo. "Uma vez, prometi ao Mariano González que se ganhássemos a Liga dos Campeões íamos fazer uma tatuagem da "Orejona" [orelhuda, como é conhecido o troféu na Argentina]. Ainda sonho com isso. É um dos objetivos pessoais que gostaria de cumprir. Sei que é difícil porque competimos com clubes que têm um nível económico três ou quatro vezes maior do que o nosso, mas também há surpresas. É por isso que o futebol é lindo. E cada vez que começa a Champions sonho em vencê-la", admitiu.

"Não me passa pela cabeça jogar noutro clube europeu"

Tem mais dois anos de contrato com o FC Porto. Pensa terminar a carreira em Portugal?

Atualmente, o único ponto que me faz questionar isso é se volto a jogar na Argentina ou não. Sei que me vou retirar no FC Porto, não me passa pela cabeça jogar noutro clube europeu. Depois, terei de decidir o que faço na Argentina. Quando volto ao meu país encanta-me ver futebol, sentir a paixão das pessoas e, é óbvio, gostaria de voltar a jogar aqui. Mas ainda tenho dois anos para pensar nisso.

O FC Porto mantém a vontade que o Lucho fique depois de terminar a carreira?

Sim, a relação que tenho com os dirigentes e com as pessoas do clube sempre foi especial. Valorizo muito isso e, por sorte, pude cumprir a promessa de voltar a jogar lá. Sabia que em dois, três ou quatro anos, de alguma maneira regressaria. Sinto-me identificado com o FC Porto, gosto muito da cidade e, por isso, existe um carinho mútuo.

Não conhecia Vítor Pereira

Lucho trocou o FC Porto pelo Marselha no verão de 2009, falhando a última temporada de Jesualdo Ferreira no banco portista e, depois, a entrada da equipa técnica de Villas-Boas. Por isso, El Comandante não conhecia muito bem os métodos de trabalho de Vítor Pereira. "Saí antes de Villas-Boas assumir o comando e ao Vítor vi-o apenas uma vez quando fui assistir a um jogo do FC Porto e passei pelo balneário para saudar os meus ex-companheiros. Sabia como trabalhava porque sempre mantive contacto com as pessoas do clube e com os jogadores, e via os jogos. Sabia que estava a fazer as coisas bem e por isso conseguiu uma boa temporada no FC Porto", atirou.

"Virtude do FC Porto é manter a mística"

O plantel mudou, e muito, mas Lucho garante que a filosofia no Dragão é exatamente a mesma que tinha conhecido

Encontrou um clube diferente ou idêntico ao que tinha deixado uns anos antes?

Ainda que os jogadores não sejam os mesmos, porque é um clube vendedor, creio que a grande virtude do FC Porto é manter a mística e um estilo de jogo, de treinar e de ganhar, que se incute aos jogadores desde que entram no clube. A estrutura e as pessoas que trabalham são sempre as mesmas. Essa é a chave do êxito de um clube acostumado a vencer. E eu voltei e senti que nada havia mudado.

Muito menos a sua relação com os adeptos...

A relação com eles foi sempre muito especial. Têm um carinho muito grande por mim e tinha-lhes prometido que voltaria. Só não imaginava que fosse tão rápido. Surpreenderam- me quando cheguei ao aeroport o porque ninguém sabia que eu viajava, só as pessoas do clube sabiam que tínhamos alugado um voo privado. Foi uma surpresa linda, emocionante. Um regresso de sonho, ainda por cima marquei um grande golo na estreia.

Como surgiu a hipótese de voltar ao FC Porto?

Foi tudo muito rápido. Tinha duas propostas para ir jogar para Itália, mas a partir do momento em que o FC Porto manifestou interesse em voltar a ter-me disse ao meu representante que a prioridade era essa e chegámos a acordo porque as duas partes tinham a mesma vontade. Acordámos tudo muito rápido e disse à minha mulher para fazer as malas porque tínhamos de viajar para Portugal. Só depois voltámos a França para buscar o resto das coisas.

Tem falado com Mariano e Lisandro? Eles também querem voltar?

Mantenho um bom relacionamento com muitos excompanheiros, não só com os argentinos. Também com o Raul Meireles, o Pedro Emanuel, o Bosingwa, os uruguaios... É o fantástico que tem este clube. Quando lá cheguei, com 25 anos, estava preocupado como seria recebido. E não podia ter sido melhor, nunca me senti só.

El Comandante usa o 3 nas costas, mas ponderou escolher o 88

Lucho habituou-se desde sempre a usar o 8 na camisola. É uma espécie de amuleto que o acompanhou ao longo da carreira e que tem numa das inúmeras tatuagens. Foi com esse número que despontou no River Plate e que conquistou o Dragão na primeira passagem pelo FC Porto, voltando a usá-lo em Marselha. Porém, neste regresso a Portugal foi forçado a mudar de número porque o "seu" 8 estava entregue a João Moutinho. El Comandante não fez birra e acabou por aceitar o número 3, mas ainda ponderou vestir o 88 para manter a ligação. "Cheguei a pensar nisso, mas não gostei assim tanto da ideia. Depois, surgiu a hipótese do 3, que não é o número de um médio, mas que representa muito para o clube. Foi o número usado pelo Pedro Emanuel, depois pelo Raul Meireles, que é um amigo, e isso influenciou. Sempre gostei do 8, mas também não é nada assim tão importante. Pelo contrário, é o que menos importa", admitiu.

Amizade

Mudaram muitos nomes entre o FC Porto que Lucho deixou no verão de 2009 e o que encontrou no último inverno, mas a qualidade, garante, manteve-se

Rendido a João Moutinho e encantado com Fernando e Hulk. Foram poucos os jogadores que Lucho reencontrou no FC Porto, depois de dois anos e meio em Marselha, mas até foram aqueles que já conhecia que merecem a vénia de El Comandante. Os brasileiros pela maturidade que ganharam e o médio português pela qualidade.

Qual o companheiro que mais o surpreendeu?

O João Moutinho. Nos quatro anos anteriores foi meu rival e, por isso, já o conhecia. É um excelente jogador e um grande profissional. E houve dois que evoluíram muito: Fernando e Hulk. O Fernando joga como se tivesse 30 anos, com uma tranquilidade incrível, está sempre na posição certa para recuperar a bola, sabe quando jogar a um toque ou a dois... E Hulk está imparável em todos os sentidos: mais maduro, mais tranquilo. Aprendeu quando deve fazer uma jogada individual e quando deve passar a um companheiro. Eles foram os que mais me surpreenderam. O João já tinha demonstrado no Sporting a sua qualidade e, por isso, o FC Porto o foi buscar. O Fernando e o Hulk cresceram muito.

Talvez já não estejam no plantel quando voltarem aos trabalhos...

Já no mercado passado se falava de várias equipas de Itália para o Fernando e o mesmo com o Hulk de Inglaterra. Sabemos que o FC Porto tem essa característica, tem bons jogadores, sagra-se campeão e, depois, clubes com maior poder económico procuram os seus jogadores. Há que estar preparado para isso. Assim foi quando saiu o Lisandro, quando eu saí e o Quaresma... o clube continuou a ganhar títulos. Essa é a grande virtude do FC Porto: trabalha para que não se sinta as saídas na força da equipa. Se o Fernando e o Hulk saírem é porque o merecem, porque deram muito ao clube e agora querem experimentar outras ligas. Se ficarem, melhor para nós.

Hulk parece ser o eleito para substituir Drogba, falando-se de Jackson Martínez para o seu lugar. Conhece-o?

Sei que está no México e já o vi em alguns jogos da seleção da Colômbia, mas não o conheço ao ponto de o analisar. Por agora são especulações, há que esperar para ver se se concretiza. Mas, repito, o clube está preparado para uma saída. E o jogador que chegar será bem-vindo como eu fui no meu tempo. Trataremos de o adaptar o mais rápido possível ao clube para que possa funcionar da melhor forma.”

Em

www.ojogo.pt

Retirada do blog:

http://portistaforever.blogs.sapo.pt/

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