terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

O Mercado de Janeiro

Para começar, não consigo entender qual é a lógica de se abrir uma janela de transferências durante um mês no meio da época. Suponho que para os treinadores é difícil gerir o impacto que estes dias tem no plantel, as possíveis saídas, ou não; as possíveis entradas, ou não. Mas tal acontece e, infelizmente para nós portistas, esta janela de transferências foi difícil. Hoje decidi refletir sobre as saídas da equipa. Sobre as entradas falarei depois.


Se no mercado de verão o FC Porto conseguiu segurar os jogadores mais importantes para a equipa, no mercado de inverno viu alguns sair. Sim, o facto de não ter conseguido um lugar nos oitavos de final da Liga dos Campeões e, consequentemente, ter perdido milhões, talvez teve muita influência neste mercado de inverno. 


Começou por sair Sérgio Oliveira e este foi só o primeiro murro no estômago. Esta época o Sérgio não estava a ser um elemento tão preponderante na equipa como o foi na época passada, é certo, mas a época ainda é longa e haveria oportunidades para jogar mais, marcar e ser decisivo, tenho a certeza. No entanto, o FC Porto precisa de equilibrar as contas, também todos o sabemos e, por isso, há negócios que tem de ser aproveitados. Acredito que o Sérgio só sai por isto. O Sérgio é um dos capitães de equipa, conhece bem os valores do FC Porto e é tão portista como cada um de nós. É, por isso, uma figura importante no balneário e creio que  vai fazer falta a esta equipa. Mesmo tendo a consciência que a sua saída era, infelizmente, algo mais ou menos previsível (sobretudo depois de no mercado de verão ter estado, quiçá, com os dois pés fora do Dragão) mas eu estou triste. Estou triste porque não gosto de ver sair bons jogadores do FC Porto; estou triste por ver sair um dos meus jogadores favoritos deste plantel; estou triste por ver sair um dos nossos, um jogador da casa que nunca deixou de trabalhar para fixar-se na equipa principal, mesmo perante os empréstimos e os regressos. Para mim o Sérgio é o exemplo que pode não ser difícil chegar à equipa principal, o difícil é manter-se lá e é preciso trabalhar muito, evoluir, insistir, persistir e nunca desistir. E o Sérgio, mais do que ninguém, sabe o que isso significa.


Seguiu-se a saída de Corona. Neste caso a saída foi a melhor opção para ambas as partes. Corona deveria ter saído no verão, mas não saiu e desde então parecia não estar cá de corpo e alma. Quando tinha oportunidades para jogar, não demonstrava ser o jogador que sempre nos habituou e, por sua vez, sentia-se cada vez menos a sua falta na estratégia da equipa. Mas há que ter memória e ser gratos. Corona, durante o tempo que esteve de Dragão ao peito foi muito importante, muitas vezes foi decisivo e chegou a ser o melhor jogador da equipa, sem sombra de dúvidas. Quando foi preciso recuou no terreno e assumiu a posição de lateral direito. Em muitos jogos deu tudo o que tinha pela equipa. Mas o ciclo de Corona no Dragão terminou aqui.


E, por fim, a saída de Luis Diaz. Não sei se foi um bom ou mau negócio, só sei que ver sair o melhor jogador da equipa no meio da época é difícil, é um valente murro no estômago. Sendo realista, já esperava a saída de Diaz, mas em junho. Sim, porque era previsível que Luis Diaz fosse contratado pelo Liverpool. Mas tinha de ser no meio da época? Os ingleses precisam mesmo de Diaz neste momento? Não era possível realizarem o acordo agora, mas o mesmo só entrar em vigor a partir de junho? Perguntas que nós portistas colocamos perante esta confirmação. Vemos sair o melhor jogador do FC Porto no meio da época (e esse é o grande problema) quando há tanto para jogar e disputar. E sobra a pergunta: e agora? Agora, a equipa vai continuar em frente, porque há mais jogadores no plantel com vontade de mostrar trabalho e de somar minutos. O FC Porto, de certeza, entrará em campo todos os jogos com 11 jogadores. A equipa fica mais fraca sem Diaz? Sim, óbvio que sim, seria hipócrita dizer o contrário. Mas façamos um exercício. E se Diaz não saísse e, por infelicidade, se lesionasse com gravidade. A equipa iria ter de continuar a jogar sem ele. Reparem que estou a tentar minimizar a situação. Portanto o caminho é para a frente e a equipa tem de o continuar a fazer de olhos postos nos objetivos que tem para alcançar. A partir daqui, sem a individualidade que sobressaía, terá de ser a união e o coletivo a sobressair. E acreditaremos que a união fará a força. Luis Diaz chegou ao Dragão como um jogador desconhecido, aqui trabalhou, cresceu, evoluiu, valorizou-se e transformou-se num craque cobiçado. Estava a ser um dos elementos mais importantes na estratégia da equipa, estava a ser decisivo em muitos jogos, seja a marcar ou a assistir.  


Não sei avaliar se financeiramente são ou não bons negócios, até porque há valores negociados por objetivos que só mais tarde, caso os mesmos sejam alcançados, entrarão nos cofres do Dragão, para além das malfadadas comissões pagas a empresários e intermediários (que gostava de verem terminadas, até porque isso causa desconfiança e mostra o quanto há muita gente a ganhar com o futebol); mas sei que desportivamente as saídas de Sérgio Oliveira e Luis Diaz são más para a equipa. Também sei que estas saídas, sobretudo a de Luis Diaz, mostram o quanto o FC Porto tem a corda ao pescoço e tem, parece-me, por diferentes situações. Primeiro, ainda se estão a pagar erros do passado bem recente, que fez com que a UEFA ficasse de olhos nas contas; depois, por causa do flagelo das saídas a custo 0 que tem acontecido, mas que nem sempre é possível ao clube aceitar as condições pedidas para renovar; pelo facto de na época 2020-2021 o público ter ficado fora dos estádios e, mesmo com uma boa campanha na Liga dos Campeões, não chegou para fazer frente às despesas; que aquilo que tanto agradecemos (o regresso de Vitinha) significou milhões que não entraram quando o clube já contava com eles; e que o facto de não termos conseguido avançar para os oitavos de final da Liga dos Campeões complicou mais ainda. Tudo junto resultou neste mercado infernal. Mais uma vez, não sei avaliar a gestão financeira do clube, não sei que solução existe, limito-me a escrever factos e os factos que são do conhecimento de todos nós, mas sei que a equipa de futebol é quem paga a fatura mais elevada, porque são daí que saem os jogadores, mesmo que seja abaixo da cláusula, para equilibrar contas. Também não sei se, por muito que o FC Porto quisesse, conseguiria realmente vender Diaz pela cláusula. É que para receber 80 milhões, qualquer uma equipa está disponível, mas para libertarem 80 milhões, já é mais difícil. Daí os valores negociados por objetivos, digo eu, que nem percebo muito de finanças e contas e contabilidade e afins. Mas temo o mercado de verão e o que daí resulte, desportivamente, para a equipa. Pensaremos no mercado de verão mais lá à frente.


No final do jogo de domingo, Sérgio Conceição referiu que quando existe pouco planeamento é necessário rever objetivos. Perante estas declarações, sobraram-me duas sensações. Primeiro relativamente ao existir pouco planeamento, tal como todos nós, Sérgio Conceição esperava que fosse possível segurar os jogadores mais importantes, nomeadamente Luis Diaz, até ao final da época. E será que não foram definidos diferentes planos  financeiros para o caso de não avançar para a próxima fase da Liga dos Campeões? Tal como nós, Sérgio Conceição não gosta de ver sair jogadores. Quanto à necessidade de rever objetivos, diria que o campeonato é prioridade, até porque é a forma de garantir a entrada direta na Liga dos Campeões da próxima época. A Taça de Portugal não é de descartar, mas provavelmente passa para segundo plano (ou será que passa mesmo para terceiro plano?) e relativamente à Liga Europa, é pensar jogo a jogo (sempre tendo em conta que cada eliminatória ultrapassada significa mais receita, ainda que seja muito inferior à receita da Liga dos Campeões), sem muita expectativa. É esta a leitura que faço, correndo naturalmente o risco de estar completamente errada.


Só sei que custa sempre ver sair bons jogadores, mas infelizmente esta é a sina de um clube de um campeonato com pouco puder e visibilidade na Europa, um campeonato que (todos o sabemos) é pouco atrativo para manter jogadores. O FC Porto é um clube que compra jogadores, valoriza-os e vende-os. Por muito que tenha a noção desta realidade, nunca vou conseguir habituar-me. Mas a verdade é que o FC Porto sobreviveu às saídas de grandes jogadores: Vítor Baía, Jorge Costa, Ricardo Carvalho, Deco, Lucho, Hulk, Falcao, James, João Moutinho, entre tantos e tantos outros e agora não será diferente. Os jogadores vem e vão, atrás dos sonhos ou do dinheiro, o FC Porto fica cá sempre, o FC Porto e nós adeptos que não o trocamos por nada deste mundo. 


E agora vamos recuperar deste mercado difícil apoiando incondicionalmente a equipa e Sérgio Conceição. 


             

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