sábado, 8 de maio de 2010

Entrevista: Helton

Encontrei esta entrevista no OJOGO e decidi colocá-la aqui na íntegra. Helton fala, sobretudo, do terceiro lugar e do mundial.

“Terceiro lugar é experiência para não repetir"
CARLOS GOUVEIA

Uma pausa. É assim que Helton, que foi sempre campeão desde que assinou pelos dragões, caracteriza esta época atípica. Ainda assim, espera ter feito o suficiente para convencer Dunga a levá-lo à África do Sul. Em conversa com O JOGO, o guarda-redes deu a entender que pretende continuar no FC Porto, clube que aprendeu a gostar como se fosse um dos sócios mais antigos. E como já vá vai na oitava temporada em Portugal, está prestes a receber o bilhete de identidade. O processo está concluído.

Falta uma jornada para o final do campeonato. A época não foi a ideal, mas mantém o sonho de estar no Mundial…

É verdade que as épocas ajudam bastante. Para se ter boas hipóteses de estar na Selecção, é preciso estar bem no clube. Mas, pelo tempo que tenho de bola, não só no FC Porto mas também no Leiria e no Vasco da Gama, acredito que tenha deixado uma imagem decente, e conto com ela. Embora não tenha conseguido o título, como era costume, não considero que esta tenha sido uma época assim tão ruim.

Na Liga dos Campeões, o FC Porto ficou um degrau abaixo da época passada, mas o Helton até realizou boas exibições…

Quando entro em campo, não penso no individual, embora tenha recebido elogios, mesmo depois do resultado negativo em Londres. Fico feliz pelo reconhecimento, mas triste porque não penso só no Helton. Aprendi a gostar do FC Porto e não me vejo só como jogador, mas também como adepto. Por isso, fico ainda mais triste quando não conseguimos uma vitória.

Ficar em terceiro é uma experiência nova para si, que estava habituado a ser campeão...

Sem dúvida. Confesso que não imaginava que fosse assim. Mas será uma experiência passageira, seguramente, para não repetir.

Como está o seu processo de naturalização?

Praticamente concluído, estou à espera de receber os papéis. É uma grande honra e vai-me permitir dar a oportunidade aos meus filhos de ter uma cultura ainda maior e saber conviver com os dois lados. Sou um filho adoptado de Portugal.

Essa decisão prende-se apenas com a oportunidade legal, por estar há mais de seis anos em Portugal, ou porque pode abrir portas a outros mercados?

Penso que vai ajudar toda a gente. O FC Porto, por abrir uma vaga para a eventual contratação de um estrangeiro. E eu vou poder andar mais à vontade nos aeroportos, porque às vezes confundem as coisas. Aqui, no Porto, nunca tive problemas, mas já tive de esperar três horas sentado por um documento que me libertasse a passagem. Vai-me ajudar bastante.

Pode depreender-se do seu discurso que a ideia é continuar no FC Porto?

Exactamente. Já tenho as minhas coisas bem definidas e ainda há muito para dar e aprender em Portugal.


Hulk e Fernando têm lugar no "escrete" de Helton

Na terça-feira, Helton vai estar bem atento à convocatória de Dunga para perceber se faz parte dos eleitos, mas também guarda alguma curiosidade sobre os restantes nomes. Isto porque, se fosse ele a decidir, haveria mais dois jogadores do FC Porto com qualidade para estar no Mundial. Um é fácil de adivinhar: Hulk, que até já se estreou no escrete pelas mãos do actual seleccionador. "Gostaria muito que ele fosse. Tem sido uma pessoa muito positiva no trabalho."
O outro, menos evidente: "Embora nunca tenha estado na selecção, o Fernando já demonstrou que também pode ter a sua oportunidade", frisou.

Já sonhei várias vezes com o Mundial"

Helton não defenderá em Leiria esta noite, mas garante que estará a cem por cento caso Dunga o inclua na lista para a África do Sul. Com Júlio César, do Inter de Milão, garantido, restam duas vagas para, aparentemente, serem disputadas por Doni, suplente do Roma, Victor, do Grémio de Porto Alegre, e Helton.
"A concorrência é forte, tem que ser", diz Helton. "Se for mesmo uma luta a quatro, é preciso riscar um nome apenas e as probabilidades são boas. Tenho bastante esperança em fazer parte dessa lista", admitiu. "Este é um objectivo de qualquer jogador e, por isso, é complicado explicar o que sinto. Não é bem ansiedade, nada que me tire o sono, mas uma expectativa boa", referiu. E como tem dormido descansado, Helton até já sonhou com a subida ao relvado no Mundial. "Essa é a minha ambição e já sonhei várias vezes com o momento", confessa. Aos 31 anos, o brasileiro não encara esta como a derradeira hipótese, mas sim a melhor. "É tudo uma questão de oportunidade. E a próxima é sempre a melhor, portanto é esta", atirou. A lesão, assegurou, não é problema. "Estou
bem e até tenho tido um grande apoio do clube, que me tem poupado a grandes esforços para, se for chamado, estar ainda melhor", frisou. Helton esteve na Selecção pela última vez em Outubro de 2009. Não jogou, mas ficou com a certeza de que o seleccionador está atento ao seu trabalho. "Fiz os jogos todos de preparação da Copa América e no dia do primeiro jogo até estava na ficha e não joguei. Respondi, no final, que era preciso respeitar a opinião do treinador. Da mesma forma que peço que me respeitem para que tenha conhecimento dos porquês, para melhorar ou não repetir se tiver alguma atitude incorrecta", referiu.

Que vença o melhor se eu não jogar..."

O Portugal-Brasil do Mundial é tema de conversa no balneário portista de forma ligeira. "Por enquanto, pensamos apenas nos dois jogos que faltam. Após a final da Taça até pode ser que se façam umas apostas", brincou. Antevendo um duelo equilibrado, Helton jogou à defesa. "Já representei a selecção brasileira, mas tenho um carinho enorme por Portugal. Torço sempre para que Portugal tenha sucesso. Que vença o melhor, se eu não jogar, claro", atirou, com humor.
Se Helton pudesse escolher, esse jogo seria apenas para atribuir o primeiro lugar do grupo "Era óptimo que ambas as equipas já estivessem apuradas. A responsabilidade seria menor. Torço para que todos façam um bom jogo. Se o Rolando tiver uma oportunidade, que as coisas saiam bem. O Kaká que se cuide com ele", brincou.
Helton antevê uma prova equilibrada. "O Brasil e a Itália são selecções que fazem um bom trabalho e alguma diferença. Mas neste Mundial está difícil de apostar, será muito equilibrado."

Altura ajuda muito um guarda-redes"

Desafiado por O JOGO a ajudar Carlos Queiroz a decidir os três guarda-redes para o Mundial, Helton optou pela via diplomática e insuspeita. "Vocês, jornalistas, podem responder melhor do que eu. Prefiro não opinar, porque não quero ser injusto com ninguém. O futebol é o momento e se um jogador está num bom momento pode ter a sua oportunidade. Um colega podia estar bem ontem, e agora não. Seria injusto para ele, porque o trabalho feito anteriormente também conta", sublinhou. Então, e Beto? Nova resposta defensiva. "Há tanta gente boa que seria injusto e até suspeito falar dele. Portugal vai estar bem servido, seguramente, independentemente das escolhas", insistiu. À margem deste assunto, Helton defendeu que o tamanho é importante num guarda-redes, sem, contudo, apontar o dedo a ninguém. "A altura ajuda muito. Sempre fui a favor de reconhecer as coisas e de ser transparente, mesmo que possa ser prejudicado por isso. Aprendi com o meu avô que um homem deve saber honrar a cueca que veste, cumprindo com aquilo que fala."”


Em
www.ojogo.pt


Frase que decidi sublinhar:
“…Aprendi a gostar do FC Porto e não me vejo só como jogador, mas também como adepto. …”

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