quarta-feira, 23 de junho de 2010

Entrevista: Souza

Palavras do novo reforço portista.

“"Tenho qualidade técnica para sair a jogar"

CARLOS GOUVEIA

Souza não assinou pelo FC Porto para roubar o lugar a ninguém. Apontado como concorrente directo de Fernando, o ex-jogador do Vasco da Gama até já telefonou ao trinco portista e ficou com as melhores impressões e garante que há espaço para os dois no onze de Villas-Boas. Isto porque define-se como um "volante" que não se limita a defender. Gosta de participar nas acções ofensivas e até de finalizar. Em entrevista a O JOGO prometeu dar o seu máximo para ajudar a devolver o título nacional ao FC Porto.

Para quem não o conhece, como se define como jogador?

Como volante sei marcar, mas o que marca a diferença para os trincos normais é que sei sair a jogar, tenho qualidade técnica para o fazer. Creio que foi isso que me trouxe até aqui. Para mim, tanto faz jogar como 6 ou 8 porque, graças a Deus, sei fazer bem as duas posições. Posso jogar em qualquer lado do meio-campo e sou um jogador que também gosta de surgir em zonas de finalização.

Portanto, é um trinco como o novo treinador gosta?

Creio que sim. Vou tentar corresponder às suas expectativas.

Já falou com Villas-Boas?

Por acaso já nos cruzámos. Deu-me as boas-vindas, perguntou sobre a minha família e informou-me da responsabilidade que é ser jogador do FC Porto, da cobrança que existe aqui, mas também que iria fazer com que me preocupasse apenas em jogar futebol.

Estava à espera de ver um treinador tão jovem?

É jovem, mas quanto mais jovem mais ambicioso. Vai querer ganhar alguma coisa como eu. Estamos no mesmo barco.

Conhece o Fernando, o habitual trinco do FC Porto?

Por acaso, também falei com ele por telefone antes de vir para Portugal, mas não o conheço pessoalmente. Deu para ver que é uma boa pessoa e sei que fez uma excelente temporada no FC Porto.

Vai uma boa luta entre os dois?

Não sei, se calhar não, até pode haver lugar para os dois no mesmo onze. O treinador é que terá de decidir isso. O mais importante é que o Fernando está bem aqui e eu vou tentar fazer a minha parte para conquistar o meu espaço.

Teve uma lesão grave há dois anos, o problema está totalmente ultrapassado?

Foi em 2008 que fracturei o pé esquerdo e fiquei cinco meses parado. Desde então tenho-me sentido bem e, graças a Deus, não tive mais nenhuma lesão. É como se nunca tivesse estado parado.

"A Bíblia é o meu escudo de fé"

Souza é brasileiro e isso é, praticamente, sinónimo de pessoa ligada a Deus, que leva a religião a sério. O médio que o FC Porto contratou ao Vasco da Gama não é excepção. Lê a Bíblia com frequência e procura ter uma vida regrada, sem excessos, mas também sem deixar de se divertir como qualquer jovem de 21 anos. "Sigo a Bíblia, é o meu escudo de fé, mas nem sigo muito a religião ao contrário do que dizem. É verdade que vou à igreja, e que vivo conforme o que está escrito na Bíblia. Claro que gosto de me divertir como toda a gente, mas há inúmeras formas de o fazer, sem passar dos limites", referiu.


"Fazer a minha história e não passar em branco aqui"

Carlos Alberto, Helton e Fernando (antigo guarda-redes do Leiria) foram conselheiros de Souza quando soube do interesse do FC Porto. Convencê-lo foi fácil e a ambição do jovem médio não tem limites. Já ficava satisfeito se conseguisse os mesmos títulos do que o Feijão, mas se pudesse atingir os números de Vítor Baía seria perfeito. Garante estar preparado para a cobrança dos adeptos e do treinador.

O interesse do FC Porto surpreendeu-o?

Não, o meu empresário vinha-me informando de tudo há algum tempo, nomeadamente do interesse do FC Porto. Estava muito contente e muito mais agora por ter concretizado o acordo.

E foi fácil chegar a esse acordo?

Isso foi conduzido pelo meu empresário e não sei responder. Da minha parte, foi tudo muito simples e rápido.

O que é que conhecia do FC Porto?

Basicamente conheço de acompanhar pela televisão. Sei perfeitamente quais os títulos e glórias que o clube tem conquistado. O Carlos Alberto que jogou cá e que estava comigo no Vasco da Gama deu-me referências muito boas, disse que é um grande clube que luta sempre pelos títulos nacionais e internacionais. Quero espelhar-me nele, quero passar por aqui como ele, com títulos da Liga dos Campeões e do campeonato português. Até brincámos na SAD que seria lindo acompanhar os títulos do Vítor Baia acumulando muitos títulos.

Aconselhou-se com mais alguém sobre o FC Porto?

Falei com o Fernando [ex-guarda-redes do Leiria que actua no Vasco da Gama] e com o Helton. Todos me deram boas referências. Nem há muito o que dizer, quero é responder à altura para agradecer a confiança que depositaram em mim.

É um salto grande na sua carreira. Está preparado para o desafio?

Um jogador tem que estar sempre preparado. Eu estou e tenho a certeza de que vou responder à altura. Estou num grande e estou consciente da responsabilidade que recai sobre mim, mas estou disposto a cumprir com tudo. Já tinha responsabilidades altas no Vasco da Gama. É verdade que ultimamente não tem lutado por títulos porque está a passar por algumas situações políticas que não interessa estar a referir, mas a cobrança não é diferente. Aqui também é grande. Fico feliz por sair de um grande clube sul-americano e vir para outro grande clube da Europa.

Quais são as suas ambições nesta aventura europeia?

Ganhar e ajudar a conquistar títulos. Fazer a minha história aqui e não passar em branco. Se puder conquistar o mesmo número de títulos que o Carlos Alberto conseguiu para mim já estava óptimo. De preferência em tão pouco tempo como ele.

O que pode prometer aos adeptos do FC Porto?

Que vão ver um Souza que luta, que trabalha e que rende. Vou dar o máximo para retribuir dentro do campo com vitórias todo o carinho que tenho recebido.


"Vamos voltar para o lugar de onde nunca devíamos ter saído"

Esta é a sua primeira experiência na Europa, acha que terá alguma dificuldade na adaptação?

Crio que vai ser fácil. Surgiram outras possibilidades e um dos motivos de ter vindo para o FC Porto prende-se com o facto de o clube disputar sempre títulos, por ser um grande clube e por Portugal falar a minha língua pelo que as questão de adaptação vai ser bem mais rápido do que em qualquer outro lugar.

O que é que conhece do campeonato português?

Não conheço muito. Sei que vejo nas manchetes que o FC Porto é sempre campeão. A temporada passada foi difícil, houve muito azar com as lesões e tudo mais, mas creio que esta época vai dar tudo certo e vamos voltar para o lugar de onde nunca devíamos ter saído, que é o primeiro, o da conquista de títulos. Eu vou ajudar com o meu trabalho.

Empate "português" num Mundial estranho

Souza tem acompanhado com atenção o Mundial, embora tenha perdido alguns jogos por causa da viagem para o Porto. Ainda assim, teve tempo para contar os sete golos marcados por Portugal à Coreia do Norte. Um resultado que, como brasileiro, não o assusta. "São duas selecções de grande qualidade e nada mais justo do que um empate na terceira jornada para que as duas sigam em frente sem qualquer problema", desejou, admitindo que seria um "sonho" ver uma final entre Portugal e Brasil. O médio considerou, ainda, que esta tem sido uma prova fora do normal. "Está a ser estranho, as equipas europeias estão a render abaixo do que esperava. Mas quando começar o mata-mata vão aparecer melhor e nessa altura quem errar menos vence", atirou sem avançar com um favorito ao título.

Cidade bonita, estádio de primeiro mundo

Souza passou três dias no Porto e já voltou ao Brasil. Do pouco que viu da Invicta ficou a sensação de que vai gostar de viver lá. "Conheci alguma coisa
e parece-me uma cidade muito bonita, turística. Ainda não deu para ver muito bem, vai ter de ficar para quando vier de vez." O que Souza viu ao pormenor foi o Estádio do Dragão e ficou impressionado. "É um estádio de primeiro mundo, totalmente diferente da realidade no Brasil. É dos melhores do mundo e lá me imaginei a marcar lá. Imaginei tudo e mais alguma coisa", admitiu.

Encontro marcado com um carrasco

A 16 de Outubro de 2009, Souza foi titular na final do Mundial de sub-20, disputado no Egipto, tendo perdido com o Gana, no desempate por grandes penalidades. Nos africanos pontificava David Addy, o lateral-esquerdo que o FC Porto contratou em Janeiro. Souza não sabia que ia reencontrar o ganês. "Não estou a ver quem é. Só vendo, mas é bom saber que os meninos estão a crescer e tendo-o como companheiro, melhor ainda", referiu, apontando outro exemplo. "Estive com atenção ao jogo entre o Gana e a Austrália para ver o número 13 (Andre Ayew, filho de Abedi Pele) porque lembro-me que era o 10 no Mundial que disputei."”

Em
www.ojogo.pt

Sem comentários: