terça-feira, 10 de maio de 2011

O Jantar Dos Campeões E Declarações de Deco

1 – O Jantar

“Palácio dos campeões

ANTÓNIO M. SOARES

Depois da festa popular no estádio, com caras e cabelos pintados para a ocasião, os jogadores do FC Porto trajaram a rigor para o jantar dos campeões, que
ontem reuniu no Palácio da Bolsa, no Porto, cerca de 500 convidados. Pinto da Costa, André Villas-Boas, assim como os jogadores e respectivas esposas,
foram as estrelas principais da passadeira azul estendida à entrada, por onde desfilaram personalidades das mais diversas áreas - de empresários a presidentes
de câmara, passando por ex-jogadores portistas, treinadores e presidentes de clubes adversários, com natural destaque para António Salvador, do Braga,
com quem o FC Porto discute no próximo dia 18, em Dublin, a conquista da Liga Europa. Ausência notada foi a do vice-presidente Reinaldo Teles, hospitalizado
ontem, segundo explicou Pinto da Costa.

Numa zona central da sala, como que a contrabalançar com a formalidade da ocasião, destacava-se o troféu que assinala a conquista do 25º título nacional,
permitindo ao FC Porto recuperar a tradição de organizar o jantar de campeões numa altura em que está a apenas 90 minutos de terminar o campeonato sem
derrotas e ainda com a hipótese de juntar mais dois troféus ao cardápio de títulos da temporada. Garantido, pelo menos, está o regresso dos dragões a uma
final europeia, sete anos depois da última, em Gelsenkirchen. Dublin é, agora, a nova paragem no roteiro dos campeões, num ano de estreia perfeito para
Villas-Boas. Ontem, o treinador preferiu ceder o protagonismo das declarações aos quatro adjuntos. A ideia era que também eles tivessem o devido reconhecimento,
mas Vítor Pereira, José Mário Rocha, Pedro Emanuel e Wil Coort uniram-se num elogio unânime ao líder, reforçado também no discurso de Pinto da Costa.

Com dois títulos saboreados à mesa, o plantel descansa hoje e começa amanhã a contagem decrescente para o primeiro dos três objectivos desejados: acabar
o campeonato sem derrotas, conquistar a Liga Europa e também a Taça de Portugal.

"André, quero-te na tua cadeira de sonho durante muitos anos"

"No dia em que André Villas-Boas foi apresentado, já sabia que íamos estar aqui, hoje, a festejar o título", garantiu Pinto da Costa ontem à noite, no final
do Jantar dos Campeões que reuniu a família portista no Palácio da Bolsa. Num discurso que deliberadamente evitou polémicas, o presidente portista desmistificou
a sua premonição com uma mão-cheia de outras certezas. "Sabia que íamos festejar porque o conhecia, porque o vi nascer para o futebol e conhecia a sua
capacidade. Sabia que tinha tudo o que é preciso para ter sucesso como treinador, e ainda juntava a tudo isso o facto de ser tão dragão como todos nós",
explicou, estendendo a sua admiração "à equipa técnica que ele teve a inteligência de formar". E porque nunca duvidou de Villas-Boas, Pinto da Costa fez
questão de vincular o técnico a uma das frases mais marcantes do técnico portista esta temporada, quando lhe perguntaram se admitia sair. "Ele disse: 'Porquê?
Estou na minha cadeira de sonho!' Pois bem, André, é nessa cadeira de sonho que te quero ver muitos anos e é nela que quero que sejas muito feliz muito
tempo. É aí que te queremos proporcionar todas as condições para que esta não seja apenas uma época, mas a primeira de muitas."

E porque nenhum treinador é campeão sem jogadores, Pinto da Costa não esqueceu o plantel, classificando-o como "um grupo de jogadores à Porto". "Um grupo
com um grande espírito de colectivo, rigor, uma grande ambição e, acima de tudo, enorme paixão pela camisola que enverga", frisou, creditando-lhe uma "vitória
que é dos milhões que gostam do FC Porto, mas também daqueles que se revêem no nosso clube e no nosso exemplo de luta e de afirmação". Mais concretamente,
porém, Pinto da Costa fez questão de dedicar a conquista do 25º título da história do clube a José Maria Pedroto e Pôncio Monteiro, bem como às respectivas
famílias, presentes no jantar de ontem. Ainda antes disso, o presidente do FC Porto quis envolver António Salvador, presidente do Braga, numa promessa
dirigida a Cavaco Silva, que felicitara os dois clubes pela presença em Dublin. "Quero dar-lhe a garantia de que a final da Liga Europa será disputada
com garra e querer, mas também com muito fair play."

Pinto da Costa agradeceu ainda aos dirigentes dos outros clubes presentes na festa, bem como aos autarcas - lamentando não poder contar com nenhum deles
na Câmara do Porto -, aos presidentes das associações e aos "sponsors" do clube. A terminar, o presidente do FC Porto estendeu as felicitações aos campeões
do andebol, desejando ainda felicidades aos atletas do hóquei e do basquetebol e recordando que são as vitórias do clube que "fazem com que muita gente
sinta vontade de sorrir numa altura complicada". Envolvendo todos os portistas "num abraço", Pinto da Costa encerrou a noite com um grito: "Viva o FC Porto!"

Adjuntos falam de Villas-Boas

Vítor Pereira, treinador-adjunto

"Está no FC Porto pela qualidade, princípios e ideias que defende"

Vítor Pereira, número dois da hierarquia da equipa técnica liderada por André Villas-Boas, destacou ontem a qualidade do grupo de trabalho, verdadeiro segredo,
disse, do êxito portista. "Esta época tem sido brilhante, e esperamos acabá-la com mais dois títulos para a tornar excepcional", disse à entrada para o
jantar dos campeões, aproveitando para elogiar o trabalho desenvolvido pelo chefe de equipa. "André Villas-Boas está no FC Porto pela qualidade, pelos
princípios e pelas ideias que defende. É um líder inteligente. Com um plantel de qualidade e o treinador que temos, é natural disputarmos estes títulos."



José Mário Rocha, preparador-físico

"Conheço-o há anos e tem capacidade de aprendizagem"

José Mário Rocha, responsável pela parte física do plantel portista, foi o único que acompanhou Villas-Boas na transferência de Coimbra para o Dragão. O
convívio próximo com o treinador portistas faz dele voz autorizada para resumir a ascensão meteórica. "Conheço-o há muitos anos, já desde a formação do
FC Porto. Tenho dele uma opinião positiva, pelo trabalho desenvolvido com José Mourinho e também pela capacidade de aprendizagem que faz dele o treinador
com a qualidade de trabalho que todos conhecemos", disse, reforçando que conquistar mais dois títulos faria desta uma "época perfeita"


Pedro Emanuel, treinador-adjunto

"Surpreendeu-me pelo à-vontade com que supera as exigências"

Depois de uma bem-sucedida passagem pelos juniores B, Pedro Emanuel voltou ao grupo principal, agora como adjunto, para voltar a ser campeão. "Não estou
surpreendido, porque sabia que este era um grupo com ambição. Villas-Boas é um líder com personalidade forte. Impõe-se naturalmente e consegue impor com
simplicidade o seu trabalho para que os títulos apareçam. Fiquei surpreendido pela personalidade e o à-vontade com que consegue superar as exigências",
disse, embalando para as duas finais por disputar. "Quero vê-los levantar mais troféus. O grupo tem a noção e a responsabilidade que isso implica."


Wil Coort, treinador de guarda-redes

"Ele é um espectáculo, trabalha a 100 por cento e exige o mesmo"

Wil Coort começou com Adriaanse, integrou-se na equipa de Jesualdo Ferreira e continuou com André Villas-Boas, de quem diz ter excelente impressão. "É um
espectáculo. Surpreendeu-me, porque não o conhecia bem. Trabalha sempre a cem por cento e exige o mesmo dos outros." Sobre os guarda-redes, diz que "Kadu
pode chegar ao plantel principal" e deixou elogios aos três elementos com que trabalha diariamente. "Esta não é a melhor época de Helton. A primeira e
a segunda também foram boas; esta está ao nível dessas. Beto e Pawel [Kieszek] também estão a fazer um bom trabalho."

João Moutinho

"Jogando no FC Porto, títulos são possíveis. Por isso mudei..."

João Moutinho confirmou que deverá recuperar sem problemas da lesão que o obrigou a sair mais cedo do jogo com o Paços de Ferreira. Sobre a época, Moutinho
não podia ter sido mais claro no entusiasmo. "Só jogando no FC Porto é possível ganhar títulos. Por isso mudei." E não travou nos elogios ao que encontrou.
"Vi a organização, todo o grupo, e percebi que era possível atingir os objectivos. A união do grupo tem sido muito importante", destacou. "Ganhar o campeonato
no primeiro ano de FC Porto é extraordinário, depois de seis anos como profissional. É também um orgulho estar nas duas finais que aí vêm, ou três, se
contarmos o jogo com o Marítimo, onde queremos manter a invencibilidade. Já ganhei dois títulos pelo FC Porto, e há mais dois que quero ganhar. Só me preocupo
em ajudar", rematou.

Otamendi

"O importante agora é ganhar as finais"

Otamendi estreou-se no futebol europeu com a conquista de um campeonato, mas diz que não ficou nada surpreendido. "Sabia para o clube que vinha e estou
feliz com a decisão tomada", disse, manifestando um desejo simples: "Este foi o primeiro campeonato conquistado pelo FC Porto, espero que seja o primeiro
de muitos." E apontou objectivos bem concretos: "O importante é ganhar as finais". O argentino sublinha que o plantel está focado nesse desejo. "O grupo
está cada vez mais forte e concentrado para as finais que faltam". Sobre os momentos mais marcantes da época, Otamendi destacou "os clássicos", um em particular:
"O 5-0 com o Benfica marcou-me. Os clássicos foram jogos-chave, ainda que diferentes, e tornaram-nos mais fortes." O argentino tornou-se goleador em Portugal,
com cinco golos na Liga.”

Em
www.ojogo.pt

2 – Declarações de Deco

“"É muito difícil serem tão felizes noutro clube"

PEDRO MARQUES COSTA

A história está prestes a repetir-se. Oito anos depois da vitória em Sevilha, o FC Porto volta a ter hipótese de conquistar a Liga Europa - na altura, denominada
Taça UEFA -, numa época com contornos cada vez mais épicos. No meio de tantas vitórias, sobra, pelo menos para já, apenas uma certeza: os principais clubes
europeus voltam a piscar o olho à grande maioria dos jogadores do FC Porto. Sobra a pergunta: como é que um jogador consegue resistir a tão grandes promessas?
Deco, que até ficou mais um ano pelo Dragão depois de conquistar a Taça UEFA em 2003, conta como tudo se passou depois da conquista de Sevilha. Directamente
do Rio de Janeiro para o jornal O JOGO, o médio reconheceu, no entanto, que esse não é um trabalho fácil para os dirigentes, até porque o assédio aos principais
jogadores do plantel vai aumentar nos próximos tempos. Afinal, dinheiro é sempre dinheiro. Não é fácil resistir à tentação de um contrato milionário, mas
Deco acabou por ficar. E até conseguiu o que lhe parecia impossível: vencer a Liga dos Campeões. Por tudo o que viveu em Portugal, o "mágico", que também
passou pelo Barcelona e Chelsea antes de voltar ao Brasil (está no Fluminense), avisa Hulk, Falcao e companhia que, dinheiro à parte, não há melhor clube
do que o FC Porto.


Como é que se convence os principais jogadores do FC Porto a ficarem mais um ano depois de conquistarem uma competição europeia?

Vou ser sincero: não é fácil convencer... Os jogadores têm ambições. Por exemplo, o Hulk e o Falcao têm, de certeza, muitos clubes interessados por essa
Europa fora. Para além disso, é natural que os jogadores queiram ir para outro clube, de outro campeonato. Faz parte do futebol.

E como é que o convenceram a ficar? Afinal, continuou por mais um ano depois de ganhar a Taça UEFA...

Fui convencido pelo presidente e pelo próprio Mourinho. Vieram falar comigo e disseram-me que queriam montar uma grande equipa, para vencer a Liga dos Campeões.
Na altura, achei que era ambição a mais, pensei que estavam doidos... Mas não e acabou por ser comprovar. Se os jogadores estiverem felizes, como eu acredito
que estejam, e dependendo da idade, até podem ficar por mais um ano. Eu fiquei e não me arrependi.

O FC Porto terá condições para rivalizar com os principais clubes europeus e manter os seus jogadores?

O FC Porto tem uma história fantástica e os jogadores sentem-se bem no clube. Posso garantir uma coisa por experiência própria: é muito difícil algum jogador
sentir-se tão feliz noutro clube como no FC Porto. É verdade que o aspecto financeiro é importante, mas o FC Porto só perde mesmo nisso para os maiores
da Europa. Em tudo o resto - condições, nível humano, etc., etc. - é melhor ou, na pior das hipóteses, é igual. Mas esta é também a história do clube:
formar grandes equipas, fazer grandes jogadores e, depois, vendê-los para começar tudo de novo.

"Afirmação de Hulk na selecção é uma questão de oportunidade"

Hulk já explodiu em Portugal - até mais do que uma vez... -, mas continua sem ter grandes oportunidades de se mostrar na selecção brasileira. As convocatórias
têm sido esporádicas, as hipóteses de jogar ainda pior. Deco não concorda com a ideia de que o Brasil ainda não conhece o verdadeiro Hulk e acredita que
tudo não passa de uma questão de oportunidade. "Os jogos do campeonato português passam na televisão e, agora, os treinadores nem têm de se deslocar aos
estádios para ver os jogadores. Aqui, todos sabem o que ele vale. Para mim, a questão essencial passa pelo facto de ele ainda não ter tido uma verdadeira
oportunidade na selecção. Já foi convocado mais do que uma vez, mas nunca chegou a ser uma aposta definitiva. Apesar disso, não tenho dúvidas de que tem
capacidade para se afirmar na selecção. É uma questão de tempo", confessou.


"Falcao está a fazer história"

Depois da partida com o Paços de Ferreira, Falcao chegou aos 37 golos esta temporada, depois de ter feito 34 no primeiro ano em Portugal. "Ele é fantástico.
Faz golos com uma grande facilidade", comentou Deco, que também encontrou no FC Porto um goleador "inesquecível": Jardel. "É difícil comparar os dois.
O Jardel tem uma história em Portugal muito boa para contar, não só pelo que fez no FC Porto, mas também pela sua passagem no Sporting. Hoje é a vez de
Falcao estar a fazer história. São dois grandes jogadores."

"Esta equipa tem capacidade para ser superior à de Mourinho"

Apesar da distância física que o separa de Portugal, Deco confessa que faz questão de continuar a acompanhar o campeonato português; afinal, as ligações
são grandes e continuam intensas. Por isso, ficou feliz por a final da Liga Europa ser disputada entre dois clubes portugueses. "Ainda mais com o FC Porto
lá..." Para Dublin, aponta um favorito e diz mesmo que esta equipa de André Villas-Boas pode ser melhor do que a de Mourinho.


Que opinião tem sobre esta época do FC Porto?

Tenho visto muitos jogos e o FC Porto é, actualmente, muito superior a todas as outras equipas em Portugal; joga mais e melhor futebol, não só no campeonato,
mas até na Liga Europa. Tem uma equipa muito forte, de gente nova, com muita qualidade. São muito competitivos. O presidente está de parabéns. Ele e todo
o seu staff.

Pode-se depreender das suas palavras que considera o FC Porto favorito a vencer a final da Liga Europa...

Se olharmos para as duas equipas, para a sua qualidade individual e colectiva, mas também para a sua história, o FC Porto é mais forte e deverá ser considerado
o favorito no plano teórico. Mas uma final é sempre especial. Sendo apenas um jogo, tudo pode acontecer, até porque o Braga também está forte e tem uma
equipa experiente. Vai ser um jogo diferente.

E onde vai assistir ao jogo?

Gostava muito de ir a Dublin, mas infelizmente o campeonato estará a começar e não me posso ausentar do Brasil. Fico com pena, mas vou acompanhar o jogo
pela televisão.

Pinto da Costa afirmou recentemente que esta equipa é melhor do que a de Mourinho. Concorda?

Concordo com a ideia de que esta equipa tem capacidade para ser superior à de 2003 e 2004. Sem dúvida. Mas só o tempo dirá se foi... No entanto, a história
é mesmo assim; é escrita para depois aparecer alguém a tentar fazer melhor. Apesar disso, é difícil comparar, até porque são duas grandes equipas. A realidade
mostra que a equipa actual está a fazer um campeonato absolutamente fantástico, uma temporada fora do comum; têm muita qualidade e um treinador que surpreendeu
muita gente.

"Selecção precisava de uma pessoa como Paulo Bento"

Deco abandonou a Selecção Nacional depois de ter participado no último campeonato do mundo, uma despedida que esteve longe de ser a desejada. Os problemas
com Carlos Queiroz fazem parte do passado - "Não quero falar sobre o assunto", atirou -, até porque o médio preferiu apontar ao presente, que se faz com
Paulo Bento. "Tenho acompanhado os jogos da Selecção e estão novamente a jogar bem. Paulo Bento é o treinador certo no momento certo. Portugal tem uma
geração nova, com muito talento, e o Paulo Bento conhece a maior parte deste jogadores, com quem já trabalhou. Era de uma pessoa assim que a Selecção precisava;
de alguém que saiba gerir um balneário, que saiba controlar e falar com os jogadores." Indirecta a Queiroz? Deco diz que não...”

Em
www.ojogo.pt

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